sexta-feira, 5 de outubro de 2012

"O Americano Tranquilo"

     Em 1952, Saigon vive em plena guerra tendente à sua libertação do domínio francês. É nesse contexto que é assassinado Alden Pyle, um agente da CIA idealista enviado para auxiliar as forças locais. Aí conhece Thomas Fowler, um repórter veterano correspondente do London Times, e os dois rapidamente tornam-se amigos.
     Fowler recorda episódios da guerra que se desenrola naquele país, episódios relativos ao próprio Pyle e ao triângulo amoroso que nasce entre ambos e uma jovem vietnamita, Phuong, amante original do velho correspondente.
     Relativamente à guerra, uma das questões abordadas é a forma como o comando francês destaca as vitórias (pequenas ou grandes) no terreno e as baixas do inimigo, sonegando toda e qualquer informação sobre as derrotas ou as próprias baixas. Outra questão diz respeito à falta de material aéreo de combate, nomeadamente helicópteros. Uma terceira é a ausência de primeiros socorros, o que faz com que mesmo os feridos ligeiros corram perigo de vida.
     Entretanto, Fowler é nomeado editor para os assuntos internacionais, por isso terá de regressar a Londres, apesar de esse não ser o seu desejo. Escreve então à mulher, pedindo-lhe o divórcio, por causa do seu «affair» com Phuong.
     Durante um ataque noturno de que são vítimas, Pyle acaba por salvar Fowler, ferido, transportando-o às costas. Entretanto, este recebe a resposta negativa da mulher ao pedido de divórcio, numa carta onde está bem vincada a amargura dela. Seguidamente, Fowler escreve a Pyle comunicando-lhe o oposto, isto é, que a mulher aceitara o divórcio.
     A verdade acaba por vir ao de cima e Phuong vai morar com Pyle, que se revela envolvido em atentados, cometidos ao serviço da designada Terceira Força do general Thé, distinta dos Franceses e dos Comunistas.
     Certo dia, Fowler vê-se imiscuído num desses atentados, que originalmente tinha como objetivo uma parada militar, entretanto cancelada, e que acaba por vitimar apenas civis inocentes. Entretanto, é-lhe comunicado que ficará mais um ano no Vietname.
     No final, recebe um telegrama da mulher concedendo-lhe o divórcio, ficando assim disponível para Phuong.

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"A Condição Humana"

          Tchen assassina, durante a noite, um traficante de armas, para roubar o armamento que ele transporta, pois aquele faz parte de um grupo de revolucionários chineses que está prestes a ir à luta, metade do qual não sabe, porém, servir-se dele / delas.
          Um dos temas focados é o da dependência e submissão da mulher aos homens e das jovens aos pais. Exemplo disso é o caso da jovem de 18 anos que se tenta suicidar no palanquim de noivado, por ser obrigada a desposar um «bruto respeitável». Comentário da mãe ao saber que a filha não morrerá: «Pobre filha! Ia tendo quase a sorte de morrer...».
          Outra personagem é May, uma médica alemã nascida em Xangaie doutora por Heidelberga e por Paris que encanta Kay. Ela é o oposto da mulher chinesa: escolhe o parceiro sexual, por exemplo. Por outro lado, encontra-se ao lado dos insurretos.
          O velho Gisons é um dos exemplos do machismo bruto e ignorante que reina: «A mulher está submetida ao homem como o homem está submetido ao Estado...».
          A revolução começa com a tomada de postos da polícia, uma ação levada a cabo com relativa facilidade. Do outro lado estão figuras como o francês Ferral, que lê naquela situação o fim das suas ambições e da sua ação na China.
          Tchen, juntamente com dois companheiros de armas, intenta um atentado contra Xan-Cai-Xeque, mas não consegue lançar as bombas sobre o automóvel deste. Tchen toma então a decisão de se lançar com a bomba sob o carro de Xan-Cai-Xeque, considerando ser essa a única solução a adotar.
          Tchen executa o seu plano, todavia Xan não viaja no automóvel e quem acaba morto é o próprio Tchen. O atentado desencadeia uma série de represálias: Kyo é preso e, juntamente, com outros camaradas, suicida-se com um comprimido de cianeto.
          A revolução comunista chinesa dos anos 30 é, pois, detida, mas os sobreviventes / resistentes fazem um compasso na resistência para se reorganizar, quer internamente quer no estrangeiro.

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As Intermitências da Morte

          Naquele dia, ninguém morreu. É assim que se inicia a obra. Seguidamente, tomamos conhecimento das preocupações de setores como a Igreja (a qual, sem a noção de morte, e consequentemente de paraíso e ressurreição, deixa de ter sentido, bem como a figura de Deus), o governo, os hospitais, os lares, tudo visto por Saramago com grande ironia.
          É então que um velho moribundo tem uma ideia para morrer, juntamente com o seu neto bebé, também sem salvação: serem transportados para o país vizinho.
          A notícia deste ato espalha-se e a família é condenada pelos media e pela população, até se ficar a saber que práticas semelhantes começam a ocorrer por todo o país, nuns casos por misericórdia, noutros para as famílias se verem livres dos pesos mortos que os seus velhos e moribundos constituem lá em casa.
          O governo decide, discretamente, vigiar determinadas zonas fronteiriças para controlar esta prática. Surge, então, em cena um grupo que organiza o transporte dos moribundos, auto-denominado máphia, que chantageia o governo, com base na violência (quatro vigilante em coma por dia), conseguindo que a maior parte dos vigilantes seja desativada e que 35% passem a trabalhar para si, máphia.
          Certo dia, o Diretor da Televisão Nacional lê, em direto, uma carta da Morte, onde esta esclarece que, a partir das zero horas desse dia, tudo voltará ao normal, com uma pequena diferença: as pessoas serão avisadas da sua morte uma semana antes, para que possam resolver os últimos assuntos (testamentos, por exemplo, etc.). Quem imediatamente vê nisto uma extraordinária oportunidade de negócio são as agências funerárias, os carpinteiros que fabricam caixões, os coveiros (por exemplo, exigem um aumento substancial de ordenado). O primeiro a morrer, em cima da meia-noite, é o presidente da associação das agências funerárias (oh, ironia!).
          A intenção da Morte com a sua «greve» é mostrar aos seres humanos o que seria viver para sempre,  mas, ao constatar os resultados dramáticos de tal experiência, decide fazer regressar tudo à primeira forma. E, assim, as pessoas voltam a morrer.
          Passado algum tempo, uma das fatídicas cartas anunciadoras da morte é devolvida várias vezes, o que faz com que a vítima - um violoncelista - permaneça vivo para além da data estipulada para a sua morte. Esta decide, então, alterar o verbete do violoncelista, mudando-lhe o ano de nascimento para o seguinte, o que faz com que o homem se torne «um ano mais novo».
          A Morte decide disfarçar-se de mulher, instalar-se num hotel e ir vê-lo atuar ao vivo. Os dois conhecem-se, encontram-se um par de vezes e, certo dia, ela encontra-se com ele na casa deste, transportando consigo no bolso a carta fatídica. No entanto, os dois acabam por dormir juntos e ter relações sexuais. A Morte queima a carta.
          No dia seguinte, ninguém morreu.

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